sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Carta para Emílio

Estou aqui, esta noite, esperando para tornar a vê-lo. As flores permanecem na janela e lembro-me, sem querer, da primeira vez que nós nos abraçamos.
Quanto sentimento no meu peito! Quanto acolhimento em seus braços!

E então, como está o Céu? Foi recebido no Paraíso?
Ah, você não merecia ter ido embora assim, sem ao menos se despedir de mim. Você merecia a vida eterna e bela! E eu fiquei aqui, na Terra, contemplando a sua memória, a beleza do seu sorriso.

Não se preocupe, não tenho mais lágrimas. Aprendi com as horas, a viver os minutos sem lamentações. O sol da manhã é bom e me aquece, e à tardinha as sombras fluem brandas, contraditando a luz.

Meu passo às vezes vai depressa ou para. É quando sinto o desânimo e só me encontro a portas fechadas. Recordo-me então dos dias felizes, das nossas risadas.
Sabe o que me restou do mundo?

O rio ainda corre. Dos bosques ainda vem o canto dos passarinhos. As formas todas ainda são as mesmas, mas vai tudo tão diferente, aqui sem você.
Veja só, eu contei como vai tudo por aqui!

Diga-me, há mesmo um coro de anjos nas nuvens? De fato, o Céu é azul? De onde você está, pode ver o amanhecer, as gotas de orvalho deslizando na curva da Terra?
Ah, não quero desviar-me do assunto. Escrevo para você, porque descobri uma felicidade: meu coração é fiel e eu desejo que você me espere a sua porta. Eu subirei degrau por degrau e alcançarei o seu rosto. Eu sei, estamos longe, mas eu posso correr sem parar.

Eu disse, você não deveria ter ido embora assim, sem se despedir. E, se você não vem, eu posso ir. Porque eu quero sentir aquela alegria outra vez. Eu quero sentir a brisa passando, ao seu mais leve olhar sobre mim.

Você me deixou presa aqui nesse precipício, mas eu quero seguir os seus passos pelo caminho.
Não se preocupe, eu ficarei bem. O Céu é grande, não é? Você pode me esperar, então? Eu já estou chegando.
Com todo o meu amor.

Rita Schultz
Corpo Cindico / Ler o Poema

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