quinta-feira, 11 de outubro de 2012

*in Água VivaClarice Lispector*

Minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia. Agora

sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade

da solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama. Quanto

a mim, assumo a minha solidão. Que ás vezes se extasia como diante de fogos

de artifício

solidão pode se tornar dor. E a dor, silêncio. Guardo o seu nome em
. Sou só e tenho que viver uma certa glória íntima que na

segredo. Preciso de segredos para viver.*in Água VivaClarice Lispector*

Poema amoroso (Cora Coralina)

Este é um poema de amor tão meigo, tão terno, tão teu... É uma oferenda

aos teus momentos de luta e de brisa e de céu... E eu, quero te servir a

poesia numa concha azul do mar ou numa cesta de flores do campo. Talvez tu

possas entender o meu amor. Mas se isso não acontecer, não importa. Já está

declarado e estampado nas linhas e entrelinhas deste pequeno poema, o

verso; o tão famoso e inesperado verso que te deixará pasmo, surpreso,

perplexo... eu te amo, perdoa-me, eu te amo...
*Cora Coralina*
Não te amo mais.Estarei mentindo dizendo que ainda te quero como sempre


quis.Tenho certeza que Nada foi em vão.Sinto dentro de mim que Você não

significa nada.Não poderia dizer jamais que alimento um grande amor.Sinto

cada vez mais que Já te esqueci!E jamais usarei a frase EU TE AMO!Sinto,

mas tenho que dizer a verdade É tarde demais...
 
*Clarice Lispector*

Talvez não ser,é ser sem que tu sejas,sem que vás cortandoo meio dia com uma

flor azul,sem que caminhes mais tardepela névoa e pelos tijolos,

sem essa luz que levas na mãoque, talvez, outros não verão dourada,

que talvez ninguémsoube que cresciacomo a origem vermelha da rosa,

sem que sejas, enfim,sem que viesses brusca, incitanteconhecer a minha vida,

rajada de roseira,trigo do vento,E desde então, sou porque tu ésE desde então és

sou e somos...E por amor Serei... Serás...Seremos...
Pablo Neruda

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Posso escrever os versos mais tristes esta noite..(Pablo Neruda)

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,e tiritam, azuis, os astros lá ao longe". O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.Eu amei-a e por vezes ela também me amou. Em noites como esta tive-a em meus braços.Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. Posso escrever os versos mais tristes esta noite.Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.E o verso cai na alma como no pasto o orvalho. Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.A minha alma não se contenta com havê-la perdido. Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,a minha alma não se contenta por havê-la perdido. Embora seja a última dor que ela me causa,e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.


Pablo Neruda

Não te amo mais(Clarice Lispector)

Não te amo mais.Estarei mentindo dizendo que ainda te quero como sempre quis.Tenho certeza que Nada foi em vão.Sinto dentro de mim que Você não significa nada.Não poderia dizer jamais que alimento um grande amor.Sinto cada vez mais que Já te esqueci!E jamais usarei a frase EU TE AMO!Sinto, mas tenho que dizer a verdade É tarde demais...



Clarice Lispector

Poema amoroso (Cora Coralina)

Este é um poema de amor tão meigo, tão terno, tão teu... É uma oferenda aos teus momentos de luta e de brisa e de céu... E eu, quero te servir a poesia numa concha azul do mar ou numa cesta de flores do campo. Talvez tu possas entender o meu amor. Mas se isso não acontecer, não importa. Já está declarado e estampado nas linhas e entrelinhas deste pequeno poema, o verso; o tão famoso e inesperado verso que te deixará pasmo, surpreso, perplexo... eu te amo, perdoa-me, eu te amo...


Cora Coralina

Ser grande.(Shakespeare)

Ser grande, é abraçar uma grande causa.


Shakespeare

Amor pra mim tem que ter..(Fernanda Mello)

“Não sei quanto a vocês, mas amor pra mim ter que ter cheiro. Gosto. E frases. Não adianta dizer que um olhar vale mil palavras, que o silêncio diz tudo. Não, não e não. Eu quero sentir, tocar, cheirar, provar, morder e ouvir. Ler. Então, por favor, Diga. Qualquer coisa que seja, qualquer frase, qualquer palavra perdida, fale. Ou escreva. Mas por favor, eternize. Palavras foram criadas para fotografar o coração, então por favor, não poupe o mundo da sua essência. Palavras são simples. Precisas. Lindas em sua pureza de ser dita. Não precisa fazer pose. Deixe acontecer. Se a garganta der nó e a sílaba não sair, escreva. Caneta e lápis na mão, seja. Mostre-se. Eu não me apaixono por pessoas. Eu me apaixono por frases. Me alimento de palavras. Verdades, incertezas, medos, doçuras e pequenas mentiras. Não importa. Eu quero provar seus verbos. Seus sujeitos. Seus objetos. Eu quero te ler. Te sublinhar. Te copiar. Te re-ler. Então, por favor, escreva-se. Inscreva-se. O que me encanta no mundo são letras, vogais, combinações inexatas entre o que quer dizer e o que se diz. Não precisa dizer bonito. Muito menos escrever bonito. Palavra vira poesia quando dita com a alma. Por isso, solte-se. Rabisque-se. Eu não vou analisar suas palavras. Eu vou apenas senti-las… Sentir você em cada letra escrita, em cada ponto, em cada frase desenhada. Por isso, permita-me. Eu não quero gramática, dicionário, frases de efeito, plágios descarados pra preencher vazio. Eu quero você. Você e suas palavras. Você e sua letra torta. Em qualquer frase, qualquer rima, qualquer asterisco no pé da página. Mas que seja você. Que brote do silêncio da sua alma bonita e se transforme em letras: palavras para eternizar a poesia que é seu coração!”


- Fernanda Mello

Se sou amado...(Pablo Neruda)

Se sou amado,quanto mais amadomais correspondo ao amor.
Se sou esquecido,devo esquecer também,Pois amor é feito espelho:-tem que ter reflexo.


Pablo Neruda

Não sou boa com números...(Fernanda Mello)

"Não sou boa com números. Com frases-feitas. E com morais de história. Gosto do que me tira o fôlego. Venero o improvável. Almejo o quase impossível. Meu coração é livre, mesmo amando tanto. Tenho um ritmo que me complica. Uma vontade que não passa. Uma palavra que nunca dorme. Quer um bom desafio? Experimente gostar de mim. Não sou fácil. Não coleciono inimigos. Quase nunca estou pra ninguém. Mudo de humor conforme a lua. Me irrito fácil. Me desinteresso à toa. Tenho o desassossego dentro da bolsa. E um par de asas que nunca deixo. Às vezes, quando é tarde da noite, eu viajo. E - sem saber - busco respostas que não encontro aqui. Ontem, eu perdi um sonho. E acordei chorando, logo eu que adoro sorrir... Mas não tem nada, não. Bonito mesmo é essa coisa da vida: um dia, quando menos se espera, a gente se supera. E chega mais perto de ser quem - na verdade - a gente é.

Siga a vida conforme o roteiro ...(Fernanda Mello)

Sigo a vida conforme o roteiro, sou quase normal por fora, pra ninguém desconfiar. Mas por dentro eu deliro e questiono. Não quero uma vida pequena, um amor pequeno, um alegria que caiba dentro da bolsa. Eu quero mais que isso. Quero o que não vejo. Quero o que não entendo. Quero muito e quero sem fim. Não cresci pra viver mais ou menos, nasci com dois pares de asas, vou aonde eu me levar. Por isso, não me venha com superfícies, nada raso me satisfaz. Eu quero é o mergulho. Entrar de roupa e tudo no infinito que é a vida. E rezar – se ainda acreditar – pra sair ainda bem melhor do outro lado de lá.


Fernanda Mello

Não me prendo a nada que me defina (Clarice Lispector)

"Não me prendo a nada que me defina. sou companhia, mas posso ser solidão. tranqüilidade e inconstância, pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono. Música alta e silêncio. Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. Não me limito, não sou cruel comigo! Serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer… Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. Ou toca, ou não toca.



Clarice Lispector

In a Água Viva (Clarice Lispector)

Minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo a minha solidão. Que ás vezes se extasia como diante de fogos de artifício. Sou só e tenho que viver uma certa glória íntima que na solidão pode se tornar dor. E a dor, silêncio. Guardo o seu nome em segredo. Preciso de segredos para viver.

in Água Viva
Clarice Lispector

Frase (Martin Luther King)

Não fiz o melhor, mas fiz tudo para que o melhor fosse feito .Não sou o que deveria ser, mas não sou o que era antes

Martin Luther King

Poema (Fernanda Mello)

Mas sou atrevida por natureza e adepta da frase de Nietzsche: "Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia". Ai, Nietzsche você sempre soube! É isso mesmo. Eu odeio e assino embaixo. E odeio com todas as forças, com todas as letras, em capslock, de trás para frente, em inglês ou latim. EU ODEIO. Sou uma ótima companhia para mim mesmo, adoro ficar sozinha, lendo, escrevendo ou fazendo o meu nada. Prefiro me afundar em mim a ter que ouvir gente falando merda ou contando vantagem.
Fernanda Mello

Poema (Bartolomeu Campos de Queirós)


Sou frágil o suficiente para uma palavra me machucar, como sou forte o bastante para uma palavra me ressuscitar.



Bartolomeu Campos de Queirós

Eu sou o antes..(Clarice Lispector)

Eu sou o antes, eu sou o quase, eu sou o nunca. E tudo isso ganhei ao deixar de te amar.


Clarice Lispector



Poema...(Tati Bernadi)

"Eu sou tão sua, que merda, eu sou tão sua!"
(Tati Bernardi)

Eu sou..(Clarice Lispector)

Sou os brinquedos que brinquei, as gírias que usei, os nervosos e felicidades que já passei. Sou minha praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, sou os amores que vivi, as conversas sérias que tive com meu pai: Eu sou o que me faz lembrar!!!
Sou a saudade que sinto, sou um sonho desfeito ao acaso, sou a infância que vivi, sou a dor de não ter dado certo, sou o sorriso por tudo que conquistei, sou a emoção de um trecho de livro, da cena de filme que me arrancou lágrimas: Eu sou o que me faz chorar!!!
Sou a raiva de não ter alcançado, sou a impotência diante das injustiças que não posso mudar, sou o desprezo pelo que os outros mentem, sou o desapontamento com o governo, o ódio que isso tudo dá. Sou o que eu remo, sou o que eu não desisto, sou o que eu luto, sou a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta ao ver um animal abandonado: Eu sou o que me corrói!!!
Eu sou o que eu luto, o que consigo gerar através de minhas verdades, sou os direitos que tenho e os deveres a que me obrigo, sou a estrada por onde corro, sou o que ensino e, sobretudo, o que aprendo: Eu sou o que eu pleiteio!!!
Eu não sou da forma como me visto, não sou da forma como me comporto, não sou o que eu como, muito menos o que eu bebo. Não sou o que aparento ser: EU SOU O QUE NINGUÉM VÊ!!!
Clarice lispector

Tenho me convivido...(Clarice Lispector)

Tenho me convivido muito ultimamente e descobri com surpresa que sou suportável, às vezes até agradável de ser. Bem. Nem sempre.



Clarice Lispector

Tenho me convivido...(Clarice Lispector)

Tenho me convivido muito ultimamente e descobri com surpresa que sou suportável, às vezes até agradável de ser. Bem. Nem sempre.



Clarice Lispector

Não gosto do que acabo de escrever....(Clarice Lispector)

Não gosto do que acabo de escrever - mas sou obrigada a aceitar o trecho todo porque ele me aconteceu. E respeito muito o que eu me aconteço. Minha essência é inconsciente de si própria e é por isso que cegamente me obedeço.


Clarice Lispector

Clarice Lispector

Quando penso em você (Cecília Meireles)

“Quando penso em você, fecho os olhos de saudade...”
Cecília Meireles

Pausa..

A pausa pode parecer um momento de silêncio, mas às vezes, chega como necessidade de permitir que percebamos que o silêncio pode estar inundado de quereres.E nessa pausa, não apenas nos descobrimos, mas pertimos ser trabalhados por ele: o tempo. Amadurecendo e dando a valor ao que importa, como amigos queridos.

Mar Absoluto(Cecília Meireles)

“O mar é só mar, desprovido de apegos, matando-se e recuperando-se, correndo como um touro azul por sua própria sombra, e arremetendo com bravura contra ninguém, e sendo depois a pura sombra de si mesmo, por si mesmo vencido. É o seu grande exercício.”

Sentir tudo de todas as maneiras(Alvaro de campos)

Sentir tudo de todas as maneiras, Viver tudo de todos os lados, Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo, Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo. Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo, Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo, Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia, Seja uma flor ou uma idéia abstrata, Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus. E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.” (Álvaro de Campos)

O Seu Santo Nome[Carlos Drummond de Andrade]


Não facilite com a palavra amor.Não a jogue no espaço, bolha de sabão.Não se inebrie com o seu engalanado som.Não a empregue sem razão acima de toda a razão ( e é raro).Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissãode espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavraque é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.Não a pronuncie.

Santo Agostinho

"...Esbanja o amor à mão-cheia! Oferece-o, atira-o pela janela, espalha-o aos quatro ventos, esvazia os bolsos - e terás mais do que tinhas."
(Santo Agostinho)

Pablo Neruda (Poema)

"(...) Eu era a fome e a sede, tu foste a fruta.Eu era a dor e a ruína, tu foste o milagre.E a ternura, leve como a água e a farinhaE a palavra mal começada nos lábios (...)"
(PABLO NERUDA)

Cecília Meireles

“E, enquanto não me descobres, os mundos vão navegando nos ares certos do tempo, até não se sabe quando...” (Cecília Meireles)

Pablo Neruda(Poema)

Tu eras também uma pequena folha que tremia no peito O vento da vida pôs-te ali. A princípio não te vi: não soube que ias comigo, até que as tuas raízes atravessaram o meu peito, se uniram aos fios do meu sangue falaram pela minha boca floresceram comigo. Neruda

A primavera além das estações(Kahlil Gibran)

A primavera além das estaçõesSe o inverno dissesse:"Tenho no coração a primavera",quem acreditaria nele?Sinto-me como um campo semeadono coração do invernoe seique a primavera está chegando.Meus regatos voltarão a fluire a pequena vidaque dorme em mimbrotará na superfícieao primeiro chamado...Kahlil Gibran

Escrevo (Mário de Andrade)

“Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi.” (Mário de Andrade)

Palavras

Então, deixo todas as palavras solitárias e confusas de lado e entrego a ti o meu abraço selado pelo carinho dos dias de estações.

So me resta esperar

Só me resta esperar. Sim, esperar que seus olhos cheguem até aqui e saiba que estou melancolica e me sinto bem, feliz e penso em você e em suas tempestades…
Porque você sabe que pra mim você é uma tempestade e nada mais sei além disso e me conforta a alma que seja assim porque a figura do inesperado é o que me move de um lado para o outro nessa paisagem de contrariedades humanas. É bom saber que alguém ainda consegue ser o que se é…


Luna..

Escrevo-te estas mal traçadas…

Toda vez que ouvia "...escrevo-te estas mal traçadas linhas meu amor..." pensava:
Será que os erros do meu português ruim influenciarão no conteúdo desta carta? Será que tudo anda tão difícil que as notícias são todas tristes? Será que sou tão prático que em poucas linhas consigo externar tudo o que quero? Será que o papel-carta é tão comum que mesmo esforçando-me as linhas ficam mal traçadas? Será que a distância que nos separa aumenta o abismo entre nós? Será que as mensagens subliminares escondidas nas entrelinhas são perfeitamente captadas por ti? Será, será, será?
Sei lá, só sei que escrevo-te as linhas para falar da minha saudade, para falar que a lua pendurada no céu é vizinha das estrelas que muitas vezes contávamos deitados debaixo da amoreira (amora/namora) no início da noite. Escrevo para falar-te daquelas noites a beira mar em que sentávamos na areia da praia, só ouvindo o som das ondas. Escrevo para falar daquele dia em que voltávamos de um evento e desabou uma tempestade e corremos para fugir da chuva e secamos nossas roupas no varal da tua casa.
É, meu amor, "escrevo-te estas mal traçadas linhas..." e aguardo. Resposta? Sei que não.


Carta para Emílio

Estou aqui, esta noite, esperando para tornar a vê-lo. As flores permanecem na janela e lembro-me, sem querer, da primeira vez que nós nos abraçamos.
Quanto sentimento no meu peito! Quanto acolhimento em seus braços!

E então, como está o Céu? Foi recebido no Paraíso?
Ah, você não merecia ter ido embora assim, sem ao menos se despedir de mim. Você merecia a vida eterna e bela! E eu fiquei aqui, na Terra, contemplando a sua memória, a beleza do seu sorriso.

Não se preocupe, não tenho mais lágrimas. Aprendi com as horas, a viver os minutos sem lamentações. O sol da manhã é bom e me aquece, e à tardinha as sombras fluem brandas, contraditando a luz.

Meu passo às vezes vai depressa ou para. É quando sinto o desânimo e só me encontro a portas fechadas. Recordo-me então dos dias felizes, das nossas risadas.
Sabe o que me restou do mundo?

O rio ainda corre. Dos bosques ainda vem o canto dos passarinhos. As formas todas ainda são as mesmas, mas vai tudo tão diferente, aqui sem você.
Veja só, eu contei como vai tudo por aqui!

Diga-me, há mesmo um coro de anjos nas nuvens? De fato, o Céu é azul? De onde você está, pode ver o amanhecer, as gotas de orvalho deslizando na curva da Terra?
Ah, não quero desviar-me do assunto. Escrevo para você, porque descobri uma felicidade: meu coração é fiel e eu desejo que você me espere a sua porta. Eu subirei degrau por degrau e alcançarei o seu rosto. Eu sei, estamos longe, mas eu posso correr sem parar.

Eu disse, você não deveria ter ido embora assim, sem se despedir. E, se você não vem, eu posso ir. Porque eu quero sentir aquela alegria outra vez. Eu quero sentir a brisa passando, ao seu mais leve olhar sobre mim.

Você me deixou presa aqui nesse precipício, mas eu quero seguir os seus passos pelo caminho.
Não se preocupe, eu ficarei bem. O Céu é grande, não é? Você pode me esperar, então? Eu já estou chegando.
Com todo o meu amor.

Rita Schultz
Corpo Cindico / Ler o Poema

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Coisas Simples



A você...A madrugada chegou há pouco por aqui, não há nenhuma nuvem nesse céu de junho e os fogos já pipocam por aí anunciando as tradicionais festas juninas, mas isso não me anima... Eu estou num momento silencioso, dentro de mim crescem algumas ausências e eu não quero percorrer ruas e calçadas. Quero ficar aqui dentro apreciando esse cenário inusitado. Esse ambiente sóbrio me faz bem: meia luz, xícara vazia sobre a mesa, pés calçando meias quentes de lã, sentimento fluindo pelos meus poros, saudades nas minhas laterais, sombras lá fora e cheiro de incenso aqui dentro! Roupas quentes, saudades de coisas simples antigas e vontades recém inventadas. Hummm! Chocolates franceses... Eu amo "pains au chocolat", eles têm gotas de chocolate amargo, pesadas e fartas! E adoro aqueles copos imensos de café com baunilha, aquele creme e aquele sabor que escorre em você e te permite sorrir enquanto aquecem você por dentro e por fora... Vidraças embaçadas, fumaça saindo da boca, ruas pouco habitadas e o silencio que se demora. A lenha ardendo no canto da sala e o convite a estar consigo mesma num canto qualquer, com um livro sendo folheado com a calma que apenas as palavras escritas permitem. Nada dizer, apenas ler ou escrever. Rascunhar o verso, acabar o refrão... Um suspiro mais atento e uma vontade de não mais sair daqui e só ir até ali para buscar um cálice de vinho ou mais uma xícara de chá... As noites frias são longas, os dias chegam ao fim mais cedo e você consegue ser feliz sem sentir que isso seja uma obrigação. A gente é feliz porque existe a possibilidade do aconchego e de coisas incrivelmente simples.Enfim, vim me sentar aqui porque me lembrei de ti e as palavras quiseram seguir viagem até você. Engraçado porque a cada dia que passa percebo mais e mais que quanto menos preciso falar, mais confortável me sinto com meus pensamentos. Elaborar palavras e sons exigem uma energia além do comum... Quando tenho que dizer algo, sinto a fadiga crescer em meu peito. Sinto-me exausta. A pele parece gritar: "não diga mais nada" e os pensamentos se desarranjam. Quando posso apenas escrever, como agora: sinto como se estivesse deitada na grama, encostada num tronco de árvore frondoso com ventos cruzando a frente dos olhos e o cheiro do mar salgando o ar, como se existisse um mar logo ali... Tudo isso era para dizer que meu domingo foi igual a tantos outros: li versos, ouvi canções, busquei conforto nos ombros do mio amore, fiz farra com o cão que tomou banho e rolou satisfeito pela grama que não está mais tão verde como antes. Diz o calendário que ainda é outono, mas sinceramente? Não dou a mínima para o que diz essa seqüência tola de números na folha esquecida num canto qualquer da parede..."Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira.

Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre." Clarice Lispector

Nenhum medo cresce em mim hoje, nenhuma ansiedade se espalha em meus arredores e nenhum pensamento inoportuno se prolifera. Estou envolta por uma lentidão pouco comum e tudo parece desacelerar a minha volta e eu deixo aqui essa folha e peço que o vento a leve até você... Amém.

Friendship (CLARICE lISPECTOR)


Porto Seguro. Do lado de dentro da minha janela.
“Os primeiros calores da nova estação, tão antigos como um primeiro sopro. Muito antes de vir à nova estação, já havia o prenúncio: inesperadamente uma tepidez de vento, as primeiras doçuras do ar. Esse primeiro calor ainda fresco traz tudo. Apenas isso, e indiviso: tudo.”
Clarice Lispector

E como disse Clarice, “esse primeiro calor ainda fresco traz tudo”.

Carta A ANAIS LIN



Aproveitando o mês de março que por causa de um marco no calendário nos remete as mulheres, vamos aproveitar para postar aqui algumas cartas escritas por elas ou para elas que deixaram marcas na literatura, começamos então pela Anais Nin que ficou mundialmente conhecida pelo seu estilo erótico que obviamente chocou toda uma sociedade que como sempre vivia as margens da hipocrisia.

...terrivelmente, terrivelmente vivo, atormentado, e sentindo absolutamente que preciso de você... Mas eu devo vê-la: vejo-a vibrante e maravilhosa e a mesmo tempo tenho escrito para June, arrasado, mas você compreenderá: você deve compreender. Anaïs, fique do meu lado. Você me envolve como uma chama acesa. Anaïs, por Deus, se você soubesse o que estou sentindo agora. Quero me familiarizar mais com você. Eu a amo. Amei-a quando você veio e se sentou na cama - toda aquela segunda tarde foi como um nevoeiro morno - e ouço novamente a maneira como você diz meu nome, com aquele seu sotaque estranho. Você desperta em mim tamanha mistura de sentimentos, que não sei como me aproximar de você. Apenas venha a mim - chegue mais perto de mim. Será belo, eu lhe prometo. Gosto tanto de sua franqueza - quase uma humildade. Eu nunca poderia magoar isso. Tive um pensamento esta noite de que era como uma mulher como você que eu devia ter me casado. Ou será que o amor, no começo, sempre inspira tais pensamentos? Não tenho medo de que você queira magoar-me. Vejo que você tem uma força também - de uma ordem diferente, mas ilusória. Não, você não se deixará abater. Falei muitas tolices - sobre sua fragilidade. Tenho ficado sempre um pouco embaraçado. Mas menos do que da última vez. Tudo isso desaparecerá. Você tem um senso de humor tão delicioso - adoro isso em você. Quero vê-la rindo sempre. Isso faz parte de você. Tenho pensado em lugares a que deveríamos ir juntos - pequenos lugares obscuros, espalhados por aí, em Paris. Só para dizer: aqui vim com Anaïs; aqui nós comemos ou dançamos ou nos embriagamos. Ah, vê-la realmente bêbada alguma vez, isso seria um prazer! Tenho quase medo de sugerir isso – mas Anaïs, quando penso em como você se esfrega em mim, com que ansiedade você abre as pernas e como você é húmida, Deus, fico louco de pensar como seria quando tudo acabasse.
Ontem pensei em você, em suas pernas apertadas contra mim de pé, no quarto, tremendo, em cair sobre você na escuridão e não saber de mais nada. E estremeci e gemi de prazer. Estou pensando que se tiver que passar o fim de semana sem vê-la será insuportável.

Carta escrita por Henry Miller
Anaïs Nin, in Henry & June. Segunda edição



Adeus (Virginia Wolf)


Se há uma voz que me intriga na literatura, com certeza é a voz dessa mulher que aparece em suas cartas com uma tristeza sensorial, como se fosse uma segunda pele.
Apresento a você a missiva de Virginia Wolf ou simplesmente V.

Meu Muito Querido: Tenho a certeza de que estou novamente a enlouquecer: sinto que não posso suportar outro desses terríveis períodos. E desta vez não me restabelecerei. Estou a começar a ouvir vozes e não me consigo concentrar. Por isso vou fazer o que me parece ser o melhor. Deste-me a maior felicidade possível. Foste em todos os sentidos tudo o que qualquer pessoa podia ser. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes até surgir esta terrível doença. Não consigo lutar mais contra ela, sei que estou a destruir a tua vida, que sem mim poderias trabalhar. E trabalharás, eu sei. Como vês, nem isto consigo escrever como deve ser. Não consigo ler. O que quero dizer é que te devo toda a felicidade da minha vida. Foste inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer isso — toda a gente o sabe. Se alguém me pudesse ter salvo, esse alguém terias sido tu. Perdi tudo menos a certeza da tua bondade. Não posso continuar a estragar a tua vida. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes do que nós fomos. V.


Carta de despedida de Virgínia Woolf a seu marido Leonard Woolf




















Diálogos íntimos

há tanto que anseio por esse momento que, ao rascunhar essas linhas, não resisto às lágrimas que surgem para revelar o contraste da alegria em encontrar-te e as fotografias amassadas que surgirão no decorrer dessa missiva.
Estou aqui a reler um de seus escritos, gravado em minha alma, e degustando do prazer em ser humana; paradoxal. Não sei se imaginou a dimensão que sua fala alcançaria em meu coração, mas lembro-lhe que por aqui, a vida tomou novos contornos, e a velhice já não me assusta, pretendo viver cada segundo, absorvendo as nuances do céu de cada estação. Sobre esta em especial – o inverno -, percebi que o frio não adentrou em minha alma e as cores não possuem tom de nostalgia contínua, aqui – nesse instante -, há cores do novo. Tudo tão transparente. Tão límpido. Puro.
Mas também encontro outras cores que me aquecem, como o vermelho que tem se apresentado tão vivo quanto minhas células. Penso que ele representa esse momento de entrega ao meu eu. Esse reencontro com a minha essência. E pensar que eu não acreditava que poderia sentir tanta saudade assim de mim.
Andar de mãos dadas comigo, tem sido o melhor dos namoros que tive até esse momento. Tenho gostado de tantas coisas, e a cada passo me apaixono por meus olhos, meu cheiro, meu sentir, meu pensar. Alguns podem pensar que me tornei individualista, dou boas gargalhadas somente em pensar nisso, mas sinceramente, não me importo, até porque aqui dentro tem tocado uma sinfonia tão singular que não troco por nenhum outro ritmo. Tenho escrito minha própria melodia e a harmonia nasce da vida.
Não vá pensar que nego o medo, ainda tenho minha luta diária com todos eles, afinal, como dissera Hilda, “o nunca mais não é verdade...ele é fera”, contudo, como já lhe disse em nossas conversas, o sentir é quase um prazer para mim e, portanto, se tiver que passar por todos os momentos de tormento novamente, apenas para ser, farei de bom grado, com sorriso aberto e quem sabe, as vezes, rendida às lágrimas.
Quero revelar-lhe um ocorrido novo: Algo estranho aconteceu no decorrer dessa semana, as gavetas e os baús se abriram, meu coração sentiu as marcas que ficaram das feridas e pancadas da vida, mas a dor foi tão amena que rapidamente o cheiro do velho afastou-se de minhas narinas. E logo senti um cheiro da chuva molhando a terra. Não resisti. Abandonei aquelas lembranças e sai correndo ao encontro daquela água purificadora. Sinto-a em mim até esse instante. O novo ainda está me chamando.
Enfim, querida, espero que esta missiva encontre-a sob a luz dessa lua que espreito enquanto lhe escrevo. E que minhas palavras cheguem abraçando-a.
O dia encerra-se com recordações de Caio, sinto-me “a menina que não é Capitu, mas também têm olhos de ressaca”, alguém bate à porta, acredito ser o amor, então deixe-me ir lá abrir.
Abraços saudosos,

Lya – Lya Luft
Hilda – Hilda Hilst
Caio – Caio Fernando Abreu

Persuasão







“Não posso mais ouvir em silêncio. Preciso falar com você pelos os meios de que disponho neste momento. Você fendeu minha alma. Sou metade agonia, metade esperança. Não me diga que é tarde demais, que sentimentos tão preciosos foram-se para sempre. Ofereço-me para você de novo com um coração muito mais seu do que quando você quase o despedaçou há oito anos e meio atrás. Não se atreva a dizer que o homem esquece mais rápido do que a mulher, que seu amor morre mais cedo. Eu tenho amado somente você, mais ninguém. Injusto posso ter sido, fraco e ressentido também, mas nunca inconstante. Você, apenas você trouxe-me para Bath. Faço planos pensando somente em você. Você não ainda percebeu? Terá você falhado em entender meus desejos? Eu não teria esperado nem estes dez dias se tivesse podido ler seus sentimentos como eu penso que você penetrou nos meus. Quase não posso escrever. A todo instante ouço alguma coisa que me atordoa. Você abaixa sua voz, mas eu posso distinguir seus tons mesmo quando perdidos em meio aos outros. Boníssima e excelente criatura! Você nos faz justiça, deveras. Você crê que há afeto verdadeiro e constância entre os homens. Creia “nisto”


Devo partir – incerto de minha sorte –, mas voltarei aqui ou irei para sua festa, assim que possível. Uma palavra, um olhar, será o suficiente para que eu decida entrar na casa de seu pai esta noite, ou nunca.
Persuasão, capítulo 23 Trad: Raquel Sallaberry Brião








Depois do "quase"



Tomo nota nesta manhã nessa “folha” como se escrevesse uma página de meu diário (novo) que permanece ali, em absoluto desânimo, no canto da mesa com seu branco de paisagem por despertar. Quando o fará não ouso perguntar, afinal, há tempos que eu sei que a vida é um combinado de momentos perfeitos e imperfeitos… Nossos dias andam em desacordo. Lá fora, o tempo passa, junto com as nuvens, o sol, a paisagem “quase” imóvel…
Ainda tenho em minha pele os sabores de ontem, as ilusões de passos e caminhos por uma cidade que por alguns minutos foi “nossa”. Sim, inesquecível será as ilusões de vozes “indagando” Clarice Lispector na Mário de Andrade “ela ainda é viva?” e seu olhar de incredulidade quanto ao que seus ouvidos alcançavam…
Também será inesquecível as ilusões acerca dos caminhos que agora guardam algo de ti para todo o sempre e não mais se perderão… Sim, há algo de inesquecível nos minutos e no tempo que se reinventou através dos nossos movimentos. Fico com Cecília uma vez mais. “Não há tempo”. De fato. Não há tempo bastante para tecer tantas ilusões quanto gostaríamos. De fato, nunca serão o bastante…
bacio
Lunna, a menina no sótão…

Manhã de segunda-feira…

À você que me escreve, você sabe o que!
Faltam poucos minutos para o meio dia. Não vou contá-los agora. Não fará diferença alguma. A paisagem está como de costume. É novembro. Tem aroma de outono no ar. Não diga que a estação é outra. Não diga que são equívocos de minha alma. Você sabe que em novembro eu sou assim. Tomo todos os dias pra mim. Inventa somas inusitadas. Faço do tempo um fragmento de qualquer coisa. Venho aqui para dentro de mim. Me reinvento. Me desfaço... As vezes abro a janela e me jogo pra fora, num vôo lento. Morro. E quando percebo estou em mim de novo. E sou outra. E sou tantas. E sou eu mesma... Daqui a pouco será dezembro. Os sons serão outros. O calor chegará de repente, como se tivesse pressa. Será primavera durante um ou dois dias e então o verão falará de seus matizes. Tudo muito quente... Vou deixar isso para depois porque não suporto dezembro e suas festividades cristãs. Todo mundo tem pressa em dezembro. Querem comprar o mundo como se tudo de fato se limitasse a esse mês e suas ilusões com luzinhas a piscar. Não tolero dezembro. (pausa para respirar e voltar para dentro de mim. As vezes eu saio. Não tem jeito). Você sabe. Saudades. Por onde andará você? (pausa longa) Deve estar a esperar pelo inverno para se acomodar em suas peles. Invejo-te. Por aqui não há inverno. As vezes, o inverno, aparece em algumas horas do dia. Esfria. Venta. E as janelas são fechadas. As pessoas ficam emburradas... Pronto. Eu me manifesto. Adoro calçadas no inverno. Pena que tudo é tão apouco. Tão breve. Nunca estamos satisfeitos, não é mesmo? Vou ali tomar um café. Volto em breve com as figuras das atmosferas alheias. Tenho muito o que mostrar…

Lu Guedes

Vamos?





“Se algo faz falta Nada faz sentido Sentir nada é melhor Melhor mesmo é tudo O ar pra voar O mar pra navegar O sol que te faz brilhar Até o jogo pra jogar”
(Jacqueline H. Osterrath)



Estou à procura daquelas palavras que trocamos outro dia; palavras ditas entre pontos, vírgulas e refinados travessões. Foram verbos compostos em cartas imaginárias que chegariam até mim e até você. Não sei como toda essa história começou, sei apenas que hoje escrevo linhas e versos para ti.
Às vezes ouso até grifar frases prontas e te entregar - mas você não se importa com isso, não é?! - Pois, sempre componho alguns momentos guardados em nossas memórias que mais parecem caixas guardando emoções, e assim, com essas lembranças, escrevo versos e reversos ao amanhecer e entardecer de minhas recordações.
Seus olhos e sorrisos misturam-se a calmaria ou tempestades de sentimentos que se desprende de mim. É como um livro compondo histórias; livro escrito por ti ou por alguém que mistura as minhas palavras num guardanapo de papel, e os versos eu deixo selado para ti em algum lugar do tempo.

Por hoje, esqueço as xícaras de chá e recorro ao sabor do legítimo café francês que tomamos numa tarde de vontades. Tarde que jamais será esquecida, pois os olhos, as mãos se encontraram e os sabores uniram-se num só. As nossas recordações são as melhores, não é?! Os sabores existentes ali eram: a vontade de nenhuma palavra, apenas a vontade do querer queimando e aquecendo corpos e desejos…

E agora, o que vamos fazer? – Eu, continuarei escrevendo cartas direcionadas a ti. Palavras que feitas por mim, porém palavras que me fazem… “Sou tua poetisa. Você é o meu romance, a ternura em minhas poesias.”
E você, o que fará?
Deixo aqui, diante dos seus olhos, as minhas palavras de saudade, misturadas ao desejo e ao aroma de tudo o que temos para viver…
Sigo de olhos fechados, imaginando você olhando para mim…



(Su)




Chuvas e primaveras

Já faz uns três dias que começo a sentir primavera por aqui.
As letras mudaram e junto com elas o sabor da estação também mudou. O chá já não tem mais o gosto de laranja, e sim o sabor de rosas silvestres. Culpa das margaridas que enfeitam os canteiros e o criado do meu quarto. Começo a mudar o ritmo dos passos e caminho pelos campos chuvosos e floridos do meu jardim. Sento, leio, escrevo e tento rimar os versos que se perderam na estação.

“Bem sei que é uma vaidade dizer em plena primavera que eu sei o que é primavera. Às vezes porém sou tão humilde que os outros me chamam a atenção. É uma humildade feita de gratidão talvez excessiva, é feita de um eu de criança, de susto também de criança. Mas, desta vez, quando percebi que estava humilde demais com a alegria que me era dada pela vinda da primavera chuvosa, dessa vez apossei-me do que é meu e dos outros.”
(Clarice Lispector)


Caminhei pelo tempo lendo suas palavras trazidas pelo vento, deixei alguns versos corridos para trás e aproveitei as letras e os momentos felizes junto às flores e estações.
Lendo a sua missiva, olhei a lua e tentei esquecer o tempo lá fora; lembrei apenas que é primavera. Mas mesmo esquecendo o tempo, os ponteiros insistem em gritar abafando o som do vento. Ignoro essas campanhias e sinto apenas a primavera pintar flores e os sorrisos que vem no decorrer do dia.
A xícara de chá quente, o livro aberto sobre a mesa, gotas de chuva, raios de sol entre nuvens e ventos, flores pela casa, cartas para serem respondidas e o tempo girando lá fora em seu curso primaveril: isso sim é primavera em mim. Coisas do tempo que corre esperando os meus passos pelos campos.

“Sei o que é primavera porque sinto um perfume de pólen no ar, que talvez seja o meu próprio pólen, sinto estremecimentos à toa quando um passarinho canta, e sinto que sem saber eu estou reformulando a vida. Porque estou viva. A primavera torturante, límpida e mortal que o diga, ela que me encontra cada ano tão pronta para recebê-la. Bem sei que é uma perturbação de sentidos.”
(Clarice Lispector)

Bilhete

Caríssima,
Acordei assim, sem letras e sem palavras escorrendo pelos dedos.
Acordei com saudade e com o barulho da chuva trazendo sorrisos seus até mim. A chuva tem sido presente nessa primavera de cores cinzentas e vibrantes. Sinto o vento, o cheio da terra molhada e penso em ti, uma menina do sótão que tem as mais belas missivas e versos. Queria poder escrever palavras como as suas, que encontram o coração, mas não consigo. Sinto que o tempo corre apressado pelo relógio e está contra mim. Deixo de pensar no tempo, saboreio um delicioso chá, e leio as Epifanias que breve serão publicadas. Procuro as palavras, porém elas sumiram, então, fico apenas com a saudade de ti e dos ventos que entram pela sua sala balançando as cortinas… Desculpa os atrasos e as respostas curtas, caríssima! Mais saiba que peço a vento que leve até você abraços, beijos e carinhos meus até ti!
Beijos,

Su