quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Coisas Simples



A você...A madrugada chegou há pouco por aqui, não há nenhuma nuvem nesse céu de junho e os fogos já pipocam por aí anunciando as tradicionais festas juninas, mas isso não me anima... Eu estou num momento silencioso, dentro de mim crescem algumas ausências e eu não quero percorrer ruas e calçadas. Quero ficar aqui dentro apreciando esse cenário inusitado. Esse ambiente sóbrio me faz bem: meia luz, xícara vazia sobre a mesa, pés calçando meias quentes de lã, sentimento fluindo pelos meus poros, saudades nas minhas laterais, sombras lá fora e cheiro de incenso aqui dentro! Roupas quentes, saudades de coisas simples antigas e vontades recém inventadas. Hummm! Chocolates franceses... Eu amo "pains au chocolat", eles têm gotas de chocolate amargo, pesadas e fartas! E adoro aqueles copos imensos de café com baunilha, aquele creme e aquele sabor que escorre em você e te permite sorrir enquanto aquecem você por dentro e por fora... Vidraças embaçadas, fumaça saindo da boca, ruas pouco habitadas e o silencio que se demora. A lenha ardendo no canto da sala e o convite a estar consigo mesma num canto qualquer, com um livro sendo folheado com a calma que apenas as palavras escritas permitem. Nada dizer, apenas ler ou escrever. Rascunhar o verso, acabar o refrão... Um suspiro mais atento e uma vontade de não mais sair daqui e só ir até ali para buscar um cálice de vinho ou mais uma xícara de chá... As noites frias são longas, os dias chegam ao fim mais cedo e você consegue ser feliz sem sentir que isso seja uma obrigação. A gente é feliz porque existe a possibilidade do aconchego e de coisas incrivelmente simples.Enfim, vim me sentar aqui porque me lembrei de ti e as palavras quiseram seguir viagem até você. Engraçado porque a cada dia que passa percebo mais e mais que quanto menos preciso falar, mais confortável me sinto com meus pensamentos. Elaborar palavras e sons exigem uma energia além do comum... Quando tenho que dizer algo, sinto a fadiga crescer em meu peito. Sinto-me exausta. A pele parece gritar: "não diga mais nada" e os pensamentos se desarranjam. Quando posso apenas escrever, como agora: sinto como se estivesse deitada na grama, encostada num tronco de árvore frondoso com ventos cruzando a frente dos olhos e o cheiro do mar salgando o ar, como se existisse um mar logo ali... Tudo isso era para dizer que meu domingo foi igual a tantos outros: li versos, ouvi canções, busquei conforto nos ombros do mio amore, fiz farra com o cão que tomou banho e rolou satisfeito pela grama que não está mais tão verde como antes. Diz o calendário que ainda é outono, mas sinceramente? Não dou a mínima para o que diz essa seqüência tola de números na folha esquecida num canto qualquer da parede..."Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira.

Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre." Clarice Lispector

Nenhum medo cresce em mim hoje, nenhuma ansiedade se espalha em meus arredores e nenhum pensamento inoportuno se prolifera. Estou envolta por uma lentidão pouco comum e tudo parece desacelerar a minha volta e eu deixo aqui essa folha e peço que o vento a leve até você... Amém.

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