quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Diálogos íntimos

há tanto que anseio por esse momento que, ao rascunhar essas linhas, não resisto às lágrimas que surgem para revelar o contraste da alegria em encontrar-te e as fotografias amassadas que surgirão no decorrer dessa missiva.
Estou aqui a reler um de seus escritos, gravado em minha alma, e degustando do prazer em ser humana; paradoxal. Não sei se imaginou a dimensão que sua fala alcançaria em meu coração, mas lembro-lhe que por aqui, a vida tomou novos contornos, e a velhice já não me assusta, pretendo viver cada segundo, absorvendo as nuances do céu de cada estação. Sobre esta em especial – o inverno -, percebi que o frio não adentrou em minha alma e as cores não possuem tom de nostalgia contínua, aqui – nesse instante -, há cores do novo. Tudo tão transparente. Tão límpido. Puro.
Mas também encontro outras cores que me aquecem, como o vermelho que tem se apresentado tão vivo quanto minhas células. Penso que ele representa esse momento de entrega ao meu eu. Esse reencontro com a minha essência. E pensar que eu não acreditava que poderia sentir tanta saudade assim de mim.
Andar de mãos dadas comigo, tem sido o melhor dos namoros que tive até esse momento. Tenho gostado de tantas coisas, e a cada passo me apaixono por meus olhos, meu cheiro, meu sentir, meu pensar. Alguns podem pensar que me tornei individualista, dou boas gargalhadas somente em pensar nisso, mas sinceramente, não me importo, até porque aqui dentro tem tocado uma sinfonia tão singular que não troco por nenhum outro ritmo. Tenho escrito minha própria melodia e a harmonia nasce da vida.
Não vá pensar que nego o medo, ainda tenho minha luta diária com todos eles, afinal, como dissera Hilda, “o nunca mais não é verdade...ele é fera”, contudo, como já lhe disse em nossas conversas, o sentir é quase um prazer para mim e, portanto, se tiver que passar por todos os momentos de tormento novamente, apenas para ser, farei de bom grado, com sorriso aberto e quem sabe, as vezes, rendida às lágrimas.
Quero revelar-lhe um ocorrido novo: Algo estranho aconteceu no decorrer dessa semana, as gavetas e os baús se abriram, meu coração sentiu as marcas que ficaram das feridas e pancadas da vida, mas a dor foi tão amena que rapidamente o cheiro do velho afastou-se de minhas narinas. E logo senti um cheiro da chuva molhando a terra. Não resisti. Abandonei aquelas lembranças e sai correndo ao encontro daquela água purificadora. Sinto-a em mim até esse instante. O novo ainda está me chamando.
Enfim, querida, espero que esta missiva encontre-a sob a luz dessa lua que espreito enquanto lhe escrevo. E que minhas palavras cheguem abraçando-a.
O dia encerra-se com recordações de Caio, sinto-me “a menina que não é Capitu, mas também têm olhos de ressaca”, alguém bate à porta, acredito ser o amor, então deixe-me ir lá abrir.
Abraços saudosos,

Lya – Lya Luft
Hilda – Hilda Hilst
Caio – Caio Fernando Abreu

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